pour toujours

9.11.13

When You Hit Me Hit Me Hard ♥


Tanto escreveu que ficou com os dedos em sangue. A dor pungente no lado direito da cabeça turvava-lhe a vista. Era o peso do próprio ar que a fazia perder o fôlego. Tinha os membros entorpecidos, um ardor na garganta e os olhos repletos de lágrimas. Era só mais um factor para lhe impedir a clareza da visão. Queria desesperadamente sair. Percorrer as ruas escuras, desertas e húmidas sem rumo certo. Queria acender um cigarro enquanto os tacões dos sapatos batiam contra o asfalto. Tinha saudades das noites que passara acompanhada. Tinha saudades do calor corporal que lhe aquecia a alma. Sentia falta dos beijos sôfregos, do toque dos corpos e dos aromas. A mão esquerda pendia quase sem vida, agora que já não tinha qualquer tipo de suporte onde se sustentar. A mão que outrora a segurara partira já há muito, mas, numa triste lealdade quase poética, ela nunca se habituara a essa ausência fatal. Era um tudo nada que lhe faltava no coração. Era um tudo nada que tinha um nome. Um tudo nada que ela queria esquecer e não conseguia, por mais tentativas anímicas que fizesse. Era uma morte rápida que a consumia lentamente. Como um golpe que só se torna fatal se nos deixarmos esvair em sangue. E ela estava a ficar já enxague. Estava a tornar-se fria, hirta e vidrada. Vidrada no quê? Na sombra dele que nunca mais se adivinhara pelos mesmo caminhos que ela. Estava fixa numa qualquer linha do horizonte que só tornava o seu sofrimento mais crasso e o seu coração mais inerte. Ela, no fundo, o ser mais cristalino, já não se encontrava presente. Apenas a saudade. Porque é como sempre disse, a saudade mata.

1 comentário:

catarina disse...

Força, há que vencer essa saudade, lutar ou desistir desse amor, de modo a encontrares de novo a felicidade.